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A escrita é uma habilidade de aprendizado constante, assim como a perspectiva dos cotidianos.
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Mulheres que renascem a África

“A África caminha com os pés das mulheres”. Não é equivocado começar esta resenha com o lema de uma campanha que incentivava a entrega do Prêmio Nobel da Paz 2011 às mulheres africanas. Uma vez que são os passos de uma mulher africana, a bela jovem Sidi, que guiam o leitor na obra O Leão e a Joia – estreia tardia do escritor e dramaturgo nigeriano Wole Soyinka no mercado editorial brasileiro. A fábula contemporânea, apresentada pelo ganhador do Nobel de Literatura (1986) como uma comédia de fino humor, conta a história de um triângulo amoroso à africana que explora as relações e situações de conflito entre a cultura ancestral aldeã iorubana e a cultura modernista colonizadora europeia.


No enredo, desenvolvido como uma peça teatral dividida em três atos (Manhã, Meio-dia, Noite) e que tem como cenário a pequena aldeia de Ilujinle, no país Iorubá, Sidi (a Joia), ainda virgem, é assediada; de um lado pelo jovem professor primário, Lakunle que tenta conquistá-la com base nos saberes europeu. Do outro, pelo velho bale da aldeia, Baroka (o Leão), que aos 62 anos planeja no matrimônio com a bela joia manter o prestígio e poder como chefe tradicional e viril.



Questão de gênero


Há cenas em que brilhantemente Soyinka projeta nos diálogos a visão satírica do que seria a modernização da África nas tentativas de conquista do ocidentalizado Lankule, já em Baroka incuti um discurso experiente e astuto enquanto seduz a jovem virgem que lhe regastará a virilidade perdida. Enquanto isso, Sidi assume uma postura ridicularizadora diante de Lakunle e desafiadora perante Baroka.


Com diálogos ágeis e metafóricos e uma linguagem encantadora, Wole Soyinka apresenta esta fábula com a utilização de tradições performáticas africanas (dança, música e mímicas) e cenas coletivas que sucedem de disputas verbais e íntimas, basicamente constituídas nas conversações de quatro personagens: a bela joia Sidi, seus dois pretendentes e a esposa mais velha de Baroka, Sadiku.


A escolha da joia Sidi pode ser compreendida como a vigente atuação e desenvolvimento das mulheres africanas, que buscam pela manutenção das identidades tradicionais em detrimento de sua substituição por estruturas ocidentais. Na trama, a jovem Sidi reflete os novos personagens sociais – as mulheres, que enxergam o renascimento africano não com a substituição de seus saberes, mas sim como uma reprodução da tradição, porém convictas de seu crescente papel como protagonistas da reformulação dessas culturas tradicionais.


Por mais que o prazer da literatura seja particular, seria interessante apreciar essa fábula nos palcos baianos, com todas as suas cores, alegrias e dores de uma comédia à africana.



Resenha literária publicada no caderno de cultura "2+" do jornal A Tarde (Salvador-BA)

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